e todo caminho deu no mar

e todo caminho deu no mar
"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

viagem como arte IV

Viagem clássica


Como narra a Odisséia de Homero, durante dez anos Ulisses viaja pelo mundo. Em sua viagem de retorno, ele corre o risco de perder a memória. Por quê? Porque são várias as tentações enfrentadas pelo herói em sua viagem: os desafios dos deuses marítimos, o fruto do lótus, as drogas de Circe, o canto das sereias...


Viagem e memória. A perda da memória é uma das principais ameaças para Ulisses. Ele precisa extrair experiência. Precisa transmitir lições. Construir o sentido a partir do que viveu em suas viagens.


Ulisses não pode esquecer. Não pode principalmente esquecer o roteiro. Qual é mesmo o roteiro? o roteiro do futuro - Ítaca. O futuro para o qual ele viaja inteirinho da silva a sua espera.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

viagem como arte III

1.      Viajar é uma intimação a funcionar sensualmente por inteiro.

2.    A soltura do corpo é necessária ao exercício da viagem. Pois a carne deve se colocar à disposição do mundo...

3.     Viajar supõe... colocar-se à escuta do que em nós procede da eternidade do sistema solar...



              Michel Onfray, Teoria da Viagem – Poética da Geografia

domingo, 29 de janeiro de 2012

viagem como arte II



... a estranheza que preside a viagem é a própria desalienação...


André Bueno, “Viagens pelo mundo desencantado” in Terceira Margem

sábado, 28 de janeiro de 2012

viagem como arte I



Todas as manhãs o aeroporto em frente me dá lições de partir


Manuel Bandeira, “Lua Nova” in Estrela da Vida Inteira

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Eli, foto e texto


                                       E queria dizer que algo se prepara,
                                       que a metamorfose
                                       ruge e fia
                                       que a metamorfose
                                       lã e zela.
                                       Faz cera e cala.
                                       Asa.
                                       Zera.


                                          Eli Celso, "Rua do Coração Perdido", 1999

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

bandeira do divino II


                                               Escandinávia - Foto de Fátima Jácome





Deus nos habita
Adélia Prado, Terra de Santa Cruz



de vez em quando Deus adora um pantim
Numa Ciro, ao vivo



Deus fez tudo num sopro só como quem faz um único verso
Jorge Mautner, “Aeroplano” in As mil e uma noites de Bagdá



Deus é hoje: seu reino já começou.
Clarice Lispector, Um sopro de vida




Deus se distraiu um pouco de nós, não do todo, e somos esse sonho que está vivendo sua própria vida.
Jorge Luis Borges, O Dicionário de Borges



Deus quer, o homem sonha, a obra nasce
Fernando Pessoa, Mensagem


sábado, 21 de janeiro de 2012

"conversa ribeira"


“A música segundo Tom Jobim” é um belo filme de Nelson Pereira dos Santos que declara o seu amor à Bossa Nova e à cidade do Rio de Janeiro.  

Na tela, a música de Tom parece uma longa sinfonia que o Brasil compôs para o mundo. Durante 90 minutos,  42 canções são interpretadas por Ella Fitzgerald, Silva Telles, Elizete Cardoso, Stan Getz, Diana Krall, Judy Garland, Elis Regina, Adriana Calcanhoto, Henri Salvador, Frank Sinatra e Sammy Davis Jr, dentre outros.

Documentário leve  e inventivo como a própria obra de Tom, mas com uma implacável ausência: a voz de João Gilberto. Tomara que o tom dessa "conversa ribeira" seja bisado no segundo filme que Nelson prepara sobre Tom.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

"peço que olhes por ela"

São Sebastião de Guido Reni


"... um jovem capitão da Guarda Pretoriana foi acusado e preso por ter adorado um deus proibido. Seu corpo maleável lembrava o de um famoso escravo do Oriente por quem o imperador Adriano se apaixonara, e seu olhar era tal qual o de um conspirador... Era de uma arrogância encantadora. ... A beleza que exibia Sebastião... não estaria destinada à morte?”
.
Yukio Mishima, Confissões de uma Máscara, inspirado no quadro São Sebastião, de Guido Reni

varão

I


Ó mártir de Cristo, ó santo varão
Livrai-nos da guerra, São Sebastião

(Hino de São Sebastião)



II
 
Itália
Antiguidade clássica
Por ser cristão, um jovem oficial é perseguido
Ele é envolvido numa trama que mexe com o império romano


Corpo
Sangue
Flechas


Flechas de Sebastião e sua sangria atravessam séculos inspirando livros filmes pinturas canções esculturas promessas procissões


III

As formas suaves de Sebastião despertam sentimentos dúbios. Seu martírio desconcerta. Principalmente por causa das imagens ambíguas que misturam corpo e flecha, sedução e dor, juventude e morte.


Ele é Oxóssi nos cultos afros, e divide com Nossa Senhora da Conceição o patronato da Portela. Sebastião é padroeiro dos soldados, dos gays e marginalizados em geral.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

cadernos de viagem





I

a educação pela máquina

tanta tinta, tanto sangue, meu deus
e a gente nem ligou a impressora



II

assovio no vento escuro

o som liso

anuncia
algo tátil

acende
lareira
pau e pique



III

narrativa hídrica

o riachinho narra no mesmo tom
uma historinha irrepetível
para as mesmas margens


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

o cara

Peguei a cachaça de correr.

Dou mamadeira, arrumo cama e também lavo cueca. Porque cueca não se bota para lavar, se lava.

O que a gente tem de deixar... é um rastro.


José Mariano Beltrame (Secretário de Segurança do Rio), Alfa, Dezembro 2011

sábado, 7 de janeiro de 2012

o evangelho segundo César Aira I



O rosto tinha se imposto a tudo, ainda mais do que a palavra.

Um acontecimento na vida de um pintor viajante



...a vida rural tinge-se de um melancólico fatalismo oriental.

Pequeno Manual de Procedimentos



... divide e reinarás...

“Mil gotas” in A literatura latino-americana do século XXI

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

o evangelho segundo César Aira II


...todo realismo é oportunista.

Diálogos oblíquos (entrevistas a Bellla Josef)



... a imaginação só pode operar a partir da composição de elementos fornecidos pela realidade ...

 A trombeta de vime



A arte está sempre buscando o novo e o novo acabou se identificando com o diferente.

As noites de flores

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

o evangelho segundo César Aira III



No princípio está a renúncia. Dela nasce tudo o que podemos amar em nosso ofício...

Pequeno Manual de Procedimentos



... de novo com perfeita energia? E recomeçar era a tarefa mais repetida do mundo. Com efeito...

Um acontecimento na vida de um pintor viajante



O antigo resiste a morrer: fulmina-o o raio do inesperado, burlando suas mais sutis precauções, uma legião.

Pequeno Manual de Procedimentos


terça-feira, 3 de janeiro de 2012

dossiê de formas para Perseu

I



E sem dar uma forma, nada me existe. ...

Uma forma contorna o caos, uma forma dá construção à substância amorfa...



Clarice Lispector, A Paixão Segundo G.H.





II



E a forma? Coisas da vida!

Vinde a mim, geometrias, figuras perfeitas, - Platão, abri o curral de arquétipos e protótipos...



Leminski, Catatau





III



Em Platão, a forma é esse saber que preenche o ser.



Lacan, O Seminário – Livro 20 mais, ainda





IV



A forma custa caro.



Valéry





V



Eu devo experimentar a forma como minha relação axiológica ativa com o conteúdo... é na forma e pela forma que eu canto, narro, represento, por meio da forma eu expresso meu amor, minha certeza, minha adesão.



Bakhtin, Questões de Literatura e de Estética